No conto de Edgar Allan Poe a queda da casa de Usher temos uma autorreflexividade (primeiro paragrafo do conto) também nos é demostrada por uma dimensão poética através do poema Haunted Palace, essa autorreflexividade é equivalente a um caixão; quando se combina a poesia com a prosa encontramos uma relação de musicalidade o faz com que haja uma espécie de ressonância e consonância cósmica. Ao longo do conto estamos perante uma concentração de objetos, ao invés do filme de Epstein em que há uma elasticidade dos objetos.
Na adaptação do conto a queda da casa de Usher
de Edgar Allan Poe realizada por Jean Epstein a questão da musicalidade é nos
dada através do motivo da corda da guitarra que parte. Este filme apresenta uma
montagem dissociativa rápida isto é: não há nenhuma relação de continuidade ou
de verosimilhança. Este tipo de montagem contrasta com uma filmagem ao camara
lenta, pois estamos constantemente a passar de um registo material para um
registo espiritual, ou seja a personagem de Rodrick pinta sempre em movimento,
no entanto esse movimento é feito em câmara lenta criando uma ideia espaço no
tempo, também estamos perante uma fantasmagorização da figura feminina.”A cada
plano temos pois um estado de alma.” Para além de isto existe uma sobreposição
de imagens em que o véu é correspondente à lente de uma camara que vai
aproximar e por outro lado vai dividir a figura de Madeline “e não é por acaso
que Jean Epstein se tente, tantas e tantas vezes, a aproximar a imagem
cinematográfica da imagem onírica e alcoólica, duas imagens-pulsão." O
cinema de Epstein trata-se de um “veículo de desproporção sentimental” João
Mário Grilo em As lições do cinema.
No conto
de Edgar Allan Poe assim com no filme de Jean Epstein a natureza aparece com
uma função de destruição só que com pontos de vista diferentes, enquanto no
conto de Edgar Allan Poe a natureza aparece com um carater mais intenso que nos
é dado pela imagem da tempestade o conto termina com um fim triste um mundo
tende para uma catástrofe. No filme de Jean Epstein a relação com este elemento
aparece-nos numa forma à mesma catastrófica, mas fixista comparável a um
cristal capaz de “prever” o futuro, a ponto de criar um mundo normalista
devagar se navega no espaço com o tempo. No filme o símbolo que mais acentua o
terror é o vento salvo o erro, no primeiro plano do filme nota-se bem a sua
presença através das cortinas. Na adaptação cinematográfica do conto a
tempestade é feita pelo vento apesar do clima de terror temos um final feliz,
talvez devido a uma constante passagem de um lado para o outro da surrealidade
da imagem obtida pela injeção de tempo nos planos e sequências em câmara
lenta.
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