terça-feira, 11 de outubro de 2022

Edgar Allan Poe e Jean Epstein

 No conto de Edgar Allan Poe a queda da casa de Usher temos uma autorreflexividade (primeiro paragrafo do conto) também nos é demostrada por uma dimensão poética através do poema Haunted Palace, essa autorreflexividade é equivalente a um caixão; quando se combina a poesia com a prosa encontramos uma relação de musicalidade o faz com que haja uma espécie de ressonância e consonância cósmica.  Ao longo do conto estamos perante uma concentração de objetos, ao invés do filme de Epstein em que há uma elasticidade dos objetos.

 Na adaptação do conto a queda da casa de Usher de Edgar Allan Poe realizada por Jean Epstein a questão da musicalidade é nos dada através do motivo da corda da guitarra que parte. Este filme apresenta uma montagem dissociativa rápida isto é: não há nenhuma relação de continuidade ou de verosimilhança. Este tipo de montagem contrasta com uma filmagem ao camara lenta, pois estamos constantemente a passar de um registo material para um registo espiritual, ou seja a personagem de Rodrick pinta sempre em movimento, no entanto esse movimento é feito em câmara lenta criando uma ideia espaço no tempo, também estamos perante uma fantasmagorização da figura feminina.”A cada plano temos pois um estado de alma.” Para além de isto existe uma sobreposição de imagens em que o véu é correspondente à lente de uma camara que vai aproximar e por outro lado vai dividir a figura de Madeline “e não é por acaso que Jean Epstein se tente, tantas e tantas vezes, a aproximar a imagem cinematográfica da imagem onírica e alcoólica, duas imagens-pulsão." O cinema de Epstein trata-se de um “veículo de desproporção sentimental” João Mário Grilo em As lições do cinema.

No conto de Edgar Allan Poe assim com no filme de Jean Epstein a natureza aparece com uma função de destruição só que com pontos de vista diferentes, enquanto no conto de Edgar Allan Poe a natureza aparece com um carater mais intenso que nos é dado pela imagem da tempestade o conto termina com um fim triste um mundo tende para uma catástrofe. No filme de Jean Epstein a relação com este elemento aparece-nos numa forma à mesma catastrófica, mas fixista comparável a um cristal capaz de “prever” o futuro, a ponto de criar um mundo normalista devagar se navega no espaço com o tempo. No filme o símbolo que mais acentua o terror é o vento salvo o erro, no primeiro plano do filme nota-se bem a sua presença através das cortinas. Na adaptação cinematográfica do conto a tempestade é feita pelo vento apesar do clima de terror temos um final feliz, talvez devido a uma constante passagem de um lado para o outro da surrealidade da imagem obtida pela injeção de tempo nos planos e sequências em câmara lenta.  

 


 

 

 

 

     

 

 

 

     

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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